Durante
a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), e depois novamente na Segunda (1939 a
1945), o universo automotivo funcionou ao redor dos conflitos, produzindo
caminhões, armas, carros anfíbios e tantos outros artefatos que pudessem
contribuir com os respectivos exércitos. Produções de automóveis e
motocicletas, quando não interrompidas, foram drasticamente reduzidas.
Agora
que o mundo se curva diante da pandemia de coronavírus, as montadoras
trabalham, aqui e lá fora, a favor dos órgãos de saúde. No século passado
unidas pela guerra, agora unidas pela paz - e também pela economia mundial.
Elemento
central na crise do coronavírus são os ventiladores mecânicos, que auxiliam
portadores da covid-19 em estado crítico a respirar, durante permanência nas
UTIs. Funcionam como um pulmão artificial. Montadoras entram em cena ajudando a
construir ou distribuir tais aparelhos.
À
General Motors do Brasil caberá consertar os aparelhos quebrados, que hoje são
3 mil. "Neste momento, em paralelo ao levantamento que está sendo feito do
número, localização e modelo dos equipamentos parados, estamos treinando
virtualmente nosso corpo técnico voluntário e preparando salas nas operações da
GM no Brasil para realizarmos os reparos na semana que vem", explica o
engenheiro e gerente de inovação da empresa, Carlos Sakuramoto.
Mas
não basta produzir ou consertar. "O sistema logístico das montadoras pode
ajudar distribuir os aparelhos", pontua Marcelo Alves, professor do centro
de engenharia automotiva e engenharia mecânica da Poli.
Pois
é outra participação da GM no processo: "o objetivo é consertar 100% dos
aparelhos fazendo a logística de buscar nos hospitais, levar até uma fábrica
mais próxima, consertar com a mão de obra técnica voluntária treinada pelo
SENAI e, depois de funcionando, o equipamento retorna para o hospital de origem
para ser usado no combate ao Covid-19", afirmou a marca, que tem fábricas
em São José dos Campos, Mogi das Cruzes, São Caetano do Sul (SP), Gravataí (RS)
e Joinville (SC).
Focar
no reparo dos aparelhos está em sintonia com um alerta de Antonio Cabral,
professor da Engenharia de Produção do Instituto Mauá de Tecnologia: "em
diversas unidades de atendimento existem equipamentos danificados que poderiam
ser postos em marcha novamente com a substituição de pequenas peças que nem
sempre são disponibilizadas pelos fabricantes. A lista de motivos começa na
idade do equipamento, passa pela dificuldade burocrática para aquisição, e
chega na pura e simples indisponibilidade. A Mauá participa desse processo
disponibilizando o FabLab para a fabricação de pequenas peças, utilizando, por
exemplo, impressoras 3D".
Que
é justamente o que a PSA vai usar para confeccionar protetores faciais, outro
item fundamental aos profissionais da saúde. Dois componentes deste equipamento
de proteção individual (EPI) serão impressos pela própria PSA - já que a
produção de carros está interrompida -, o elástico é comprado e o corte das
peças é com a Fablab, uma oficina para estudantes técnicos, fruto da parceria
do Senai com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.
Todos
os insumos são fornecidos pela empresa francesa, que também entregará o
equipamento nos hospitais da região de Porto Real (RJ), onde fica sua fábrica.
Para
o professor Alves, o departamento mais importante das montadoras dispostas a
minimizar o drama do coronavírus é o da ferramentaria. "Tornos, frisadoras
e centros de usinagem podem ser reprogramados para produzir peças que compõem
os respiradores".
Por
isso que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, não hesitou em disparar
às montadoras do país especificações técnicas de respiradores mecânicos, para
que pudessem elas também produzi-los. Rolls-Royce e Jaguar Land Rover toparam o
desafio.
A
Vauxhall, fabricante inglesa que hoje pertence ao grupo PSA, também estuda
nesse momento como viabilizar o processo de produção dos ventiladores mecânicos.
O sistema britânico de saúde pública conta com 5.900 aparelhos, e a meta de
Johnson é chegar a 20.000 unidades.
Elon
Musk, CEO da Tesla, doou 1.225 respiradores à cidade de Los Angeles. E disse
que se houver escassez, bota a engenharia da fabricante de carros elétricos
para produzir as máquinas de respiração.
A
Anfavea confirmou a UOL Carros que as conversas com um grupo de montadoras
estão em fases iniciais, com o intuito de se projetar uma engrenagem que
funcione para auxiliar na produção dos equipamentos que auxiliem no tratamento
da covid-19.
Outras
áreas também poderiam ser utilizadas, segundo o professor doutor Luis Antonio
Oliveira Araujo, do departamento de engenharia mecânica da Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar): "vejo grande potencial para as áreas de apoio. As
equipes (basicamente, formada por engenheiros e técnicos) de projeto,
manufatura, qualidade e suprimentos podem colaborar fortemente no
desenvolvimento de protótipos, testes, planejamento de produção e distribuição
de respiradores".
No
entanto, os esforços ultrapassam a esfera industrial. A Volkswagen está doando
2 mil máscaras faciais protetoras 3M PFF-2 (S) e disponibilizando 100 veículos
para as quatro cidades onde mantém suas operações fabris (São Bernardo do
Campo, Taubaté, São Carlos (SP) e São José dos Pinhais (PR).
A
FCA confirmou que está avaliando "diversas frentes", cujos detalhes
serão anunciados na próxima semana. | Fonte: bol.uol.com.br |
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