
Muito se tem falado sobre as diferenças culturais
da Geração Y, ou Millennial, no mercado de trabalho. São os jovens nascidos nos
anos 90, criados em um ambiente conectado e dinâmico, muitas vezes com formação
bastante qualificada e vivências no exterior.
Em
muitos aspectos, possuem o perfil de um funcionário ideal: além da grande
bagagem acadêmica são dinâmicos, criativos, empreendedores e engajados em
causas sociais. Se bem aproveitadas,
estas características podem trazer inovação e grandes resultados para a
organização. No entanto, se a empresa não sabe lidar com este perfil, estas
mesmas qualidades podem ser um problema, transformando-se em ansiedade e
falta de comprometimento, prejudicando a qualidade do trabalho ou gerando a
perda de grandes talentos.
Conversando
com a Renata Noschese, supervisora de Sustentabilidade na Deloitte, ela me
contou sobre o relatório “The Millennial Survey 2016”, produzido pela empresa
com base em dados coletados de 7.700 jovens de 29 países, incluindo o Brasil.
De acordo com a pesquisa, os profissionais desta geração querem trabalhar em
empresas que gerem impacto positivo na sociedade, além de ansiarem por mais
atenção da parte dos seus líderes. Além disso, apenas 27% esperam estar na
mesma empresa dali a 5 anos.
O
filósofo e escritor Mario Sergio Cortella vê estas características com um olhar
não muito romântico. “Parte da nova geração chega nas empresas mal-educada. Ela
não chega mal escolarizada, chega mal-educada. Não tem noção de hierarquia, de
metas e prazos e acha que você é o pai dela” comenta, nesta entrevista à BBC
Brasil.
“No dia a dia, eles se colocam como alguém que
vai ter um grande legado, mas ficam imaginando o legado como algo imediato.”
Segundo
ele, isso acontece porque estes jovens foram criados em um cenário de
estabilidade econômica e ao mesmo tempo foram criados por pais mais protetores
que as gerações mais antigas. Com isso, têm uma visão de conquistas que não
corresponde à realidade: “No dia a dia, eles se colocam como alguém que vai ter
um grande legado, mas ficam imaginando o legado como algo imediato”, afirma o
filósofo nesta mesma entrevista. A má notícia (ou boa, dependendo do ponto de
vista) é que, com um cenário de crise no país que deve se estender por alguns
anos, estes profissionais precisam desenvolver novas habilidades. É o que
afirma Eliana Dutra, CEO da Pro-Fit neste artigo da Você S/A.
Como, então, extrair o
melhor da geração Y, desenvolver capacidades que lhes faltam e reter os
melhores talentos na empresa?
Ironicamente,
uma das formas mais eficientes de desenvolver o lado profissional dos jovens é
através de atividades que não sejam ligadas ao seu cargo na empresa. Por
exemplo, através de ações de Voluntariado Corporativo. Isso mesmo. Engajá-los em projetos sociais é uma forma
de cativá-los, já que sabemos que estes valores são importantes para a nova
geração. Ao mesmo tempo, podem ensiná-los a desenvolver um comportamento
mais profissional como cumprimento de metas e prazos, capacidade de liderar e
ser liderado, jogo de cintura, entre outros. Abaixo vão alguns exemplos de como
cada aprendizado acontece na prática:
1. Respeitar metas e prazos
Programas
de voluntariado em formato de gincanas e competições são uma ótima maneira de
ensinar a importância de lidar com metas e prazos. Se o grupo não realiza a
ação da maneira que deveria, ou se os resultados não forem reportados dentro do
prazo, a equipe perde pontos. É uma maneira simples de mostrar ao jovem que,
quando não se respeita o que foi combinado, o maior prejudicado é ele mesmo,
que terá um desempenho pior na gincana e menores chances de receber o prêmio.
2. Trabalhar pelo bem do grupo
Diferente
das gerações anteriores, hoje em dia é comum que toda a estrutura da casa
funcione regularmente enquanto o jovem precisa apenas se preocupar em estudar e
investir em sua própria carreira. Nesses lares, tarefas que visam o bem
coletivo dos moradores como limpar a casa, cozinhar ou lavar roupas geralmente
são feitas por empregados ou por pais mais protetores. Com isso, o jovem não
exercita a habilidade de servir ou de fazer algo pelas pessoas com quem
convive. No voluntariado, ele não só aprende a doar seu tempo a pessoas ou
causas que precisam do seu trabalho, como também precisa se doar aos colegas
para que o trabalho do grupo saia como desejado.
3. Exercitar a criatividade
Mutirões
de reforma são momentos incríveis para ter ideias diferentes e colocá-las em prática.
Geralmente envolvem pintura, montagem de hortinhas, parquinhos com bancos e
balanços. Oficinas de brinquedos feitos de materiais reaproveitáveis também são
uma forma de exercitar a imaginação, ao mesmo tempo em que se trabalha ecologia
e engajamento social. Além disos, muitas vezes uma ação voluntária tem poucos
recursos financeiros, o que estimula o famoso “tirar leite de pedra”. Este
último ponto, além de exercitar a criatividade, ainda estimula uma postura
positiva diante dos obstáculos, que é o próximo tópico do qual falo abaixo.
4. Aprender a lidar com imprevistos e frustrações
Verdade
seja dita: muitas vezes uma ação voluntária não sai como a gente queria. Na
cabeça, imaginamos tudo dando certo, o público atendido satisfeito e os colegas
voluntários se sentindo realizados. Na prática, faltou um determinado material,
alguns colegas não estavam tão bem-humorados quanto gostaríamos ou uma
pessoa-chave não pôde comparecer no dia. Nessas situações, até mesmo os que
foram criados por pais superprotetores serão incentivados a arregaçar as mangas
e fazer seu projeto acontecer, pois não haverá pai o chefe para resolver o
problema por ele.
5. Ser auto gerenciável e proativo
De
acordo com a pesquisa da Deloitte, citada no início deste artigo, uma das
maiores queixas dos jovens é de receberem pouca atenção ou reconhecimento por
parte dos seus gestores. Por um lado, este é realmente um gap de grande parte
das empresas: a orientação muito voltada a resultados e pouco voltada para o
processo de construção, além do fato de o gestor acumular muitas funções faz
com que ele não dedique muito tempo aos funcionários.
Por
outro lado, esta é uma realidade que não deve mudar tão cedo, então a geração Y
precisa se adaptar a este cenário. Isso significa entender seu papel na
empresa, organizar suas próprias atividades e responsabilizar-se por elas sem
que precisem ser cobrados e monitorados por seus chefes. E, de novo, o
voluntariado traz um cenário bastante positivo para esse aprendizado: seja no
caso de uma gincana ou em uma ação isolada, ele terá que traçar um plano de
ação e investir seus próprios esforços para que o resultado esperado aconteça.
Atuando por uma causa que o sensibiliza ele terá o estímulo necessário para
tentar, errar e acertar, sempre seguindo em frente e se tornando cada vez mais
protagonista de suas ações.
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